sábado, março 15, 2008
A carta que nunca irás ler
UMA CARTA QUE TALVEZ NUM IRAS LER Falo-te num momento em que dormes, a tua mão pequenina suportando o teu rosto e a tua tez húmida, por baixo do teu minúsculo cabelo a dar-te esse ar angelical. Entrei no teu quarto, só tardiamente e quase ás escondidas. Há poucos minutos quando estava lendo no meu recanto, apossou-se de mim o remorso, e tive que vir. Reconhecendo-me culpado obriguei-me a vir até ti. Vou dizer-te meu filho o que pensava antes de vir: Tenho sido demasiado exigente para contigo, repreendo-te por não quereres lavar teu rosto, quando está a vestir-te para ir para a escola, ou porque apenas passas-te a ponta dos dedos pela tua cara. Critico porque chegas com os ténis sujos, depois de vir de um jogo de bola com os teus amigos, depois chamo-te à atenção porque deixas as tuas coisas espalhadas pela casa, e nem noto ás vezes a aspereza das minha palavras. Depois vamos para a mesa s volto a ralhar contigo, porque não lavastes as mãos, porque estás a brincar com a comida, porque tens os cotovelos em cima da mesa, porque deixas sempre restos de comida no prato. E dou-me conta de que passo a maior parte do tempo em que estamos juntos a reclamar as tuas acções. Passo o tempo meu filho a repreender-te! E não noto que quando vens até mim submisso rogando se podes ir jogar um pouco à bola com os teus amigos, nem aí me dou conta de que sempre vem a rudeza nas palavras, (podes, mas com juízo) (vê lá para onde é que vais) (não venhas tarde para casa) ( já fizeste as coisas da escola). Chegas-te da escola e ralho contigo porque te demoras-te mais tempo que devias para chegar a casa, porque trazes as calças todas sujas nos joelhos, os sapatos todos molhados, acuso-te de mão teres cuidado e dares cabo de tudo. lembras-te de quando há dias, vieste ter comigo e eu estava ocupado, chegas-te devagarinho, receoso e cheio de incertezas e com uma pontinha de mágua a brilhar nos teus olhitos? Quando eu aborrecido com a interrupção, olhei para ti e para o que me ocupava no momento, e tu aproximaste-te a medo, e eu bruscamente te perguntei "Que queres?" .Não disseste uma palavra, dirigiste-te a mim penduraste-te no meu pescoço com teus braçitos já fortes, encheste-me de beijos carregados de amor e carinho com todo o afecto que Deus colocou no teu coraçãozito e que nem toda a minha negligência pode minimizar na tua forma de sentir esse carinho por mim. E porque te dei um beijo, saltas-te de alegria pela casa fora como se te tivessem dado a melhor das prendas que poderias esperar, como se há muito tempo fosse uma coisa esperada. Pouco depois de teres saído meu filho, os papeis que tinha na mão, rolaram no chão, nem dei por ela, fui invadido por um receio doentio. Que vantagem as minhas realizações profissionais se não estava a conseguir realizar-me como pai? porque te trato desse modo, para que descobrir as tuas faltas quando me esqueço das minhas? porque me esqueço que és uma criança? Não é porque não te ame, mas porque me esqueci de como já fui! porque exigir demasiado de ti e da tua infância, e nem reparo que ás vezes te trato como se já tivesses a minha idade. E no teu coração há tanto de bom de puro, de ingenuidade, e de verdade! O teu coraçãozito é tão grande como a própria aurora quando desperta pela madrugada no alto da serra. Não podias dar-me melhor demonstração de tudo isso, do que depois de tudo o que reclamo e barafusto, corres para mim e rodeias meu pescoço com intenção de me cobrir de beijos, dizes que me amas com todo teu carinho e me dás as boas-noites. Meu filho, Hoje, já nada me importa! aqui estou junto a ti, e , na escuridão ajoelhado com os olhos humedecidos, tu dormindo, mas não consegui, tinha que te pedir desculpas já! É uma fraca reparação dos meus erros, mas sei que te é difícil entender porque é que um pai possa falar com uma criança adormecida, hoje não poderias entender mas um dia saberás que esta conversa ficou gravada no teu subconsciente. Meu filho adorado, prometo vou tentar ser um verdadeiro merecedor da palavra pai! Serei teu companheiro e cúmplice, sofrerei quando sofreres, rirei quando tu rires, brincarei quando tu brincares, e tentarei ser menos agressivo nas minhas palavras e críticas. Vou repetir a mim mesmo (insistentemente) - O meu filho nada mais é de momento que uma criança carente e em desenvolvimento. Receio o facto de te ter encarado como se fosses um adulto, cedo demais. E, contudo quando te olho agora, adormecido e despreocupado na tua caminha, reparo que és apenas uma criança maravilhosa, e que ontem ainda estavas no regaço da tua mãe com tua cabeçita apoiada no seu ombro... Perdoa se tenho exigido demasiado de ti. E olha, escuta-me lá no teu subconsciente, eu vou precisar de ti para mudar, como precisei para me aperceber que estava errado. Um longo caminho começa pelo primeiro passo! Nunca é tarde para reconhecer e reparar um erro, e sempre estamos a tempo de reconhecer e pedir desculpa, e é o que te estou a fazer propondo-me a não voltar a cair no mesmo erro. A-te meu filho, tu és um bom filho, eu é que não soube estar à altura. Mas vamos reparar essa lacuna, lado a lado. Perdoa-me se puderes. Porque apesar de não te saber entender eu amo-te! G.coelho
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